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Black Metal ist Krieg

O que para muitos seria puro barulho, para mim acabou se tornando um estilo, uma fonte de inspiração, uma referência muito maior do que simplesmente estética. Mayhem, Immortal, Satyricon, Emperor, Darkthrone; para você esses nomes não dizem muita coisa mas essas são as bandas de black metal que se tornaram as maiores referências visuais da minha vida como designer.

Meu contato com o black metal começou em meados de 1996 quando escutei pela primeira vez o “Transilvanian Hunger” e fiquei sem palavras. Sabe quando você escuta uma música pela primeira vez e acaba se perguntando “Pode mesmo fazer isso daí?”. O impacto daquela primeira audição ainda repercute até hoje, acredite.

Musicalmente falando, o black metal não tem muito a ver com o que conhecemos como metal. A estrutura musical é composta de riffs agudos e excessivamente distorcidos, construídos em escalas, intervalos e progressões tonais com a finalidade de criar o som mais dissonante e medonho possível. Em contraste com outras estruturas inspiradas em estilos musicais mais clássico, usados aqui para contrastar ainda mais com o som produzido. As composições do estilo tendem a desviar quase que completamente da estrutura musical que escutamos normalmente, sendo que em sua maioria, refrões são inexistentes, dando vazão à extensos trechos de instrumental repetitivo.

darkthrone - transilvania hunger

O som não foi feito para fazer amigos, para ser tocado em festas ou na rádio. Os gritos que caracterizam o estilo cantam sobre oposição ao cristianismo e outras religiões, ao ponto de parecer que eles pregam o ateísmo, paganismo ou até mesmo o satanismo,mas isso depende de cada banda e pode variar bastante dependendo do disco. Muitos também falam sobre depressão, morte, mitologia e a natureza, porém um ponto é sempre presente: a misantropia e o ódio geral contra a humanidade.

Quando você vê as fotos dos shows dessas bandas, você é tocado de alguma forma. Tudo ali tem um ponto de reforçar os princípios de misantropia e repulsa ao cristianismo através do uso de uma seleção de imagens provocativas e iconoclastas. As performances seguem o mesmo princípio filosófico mas com uma ambientação muito mais teatral. Cabeças de animais empaladas, crucificações fantasiosas, armamento medieval e sangue de animais não são raros aqui. Mas o que mais chama a atenção no visual dessas performances é o “corpse paint”: uma maquiagem preta e branca que é usada para itensificar a imagem inumana dos músicos. Ela surgiu inspirada pela aparência dos membros da Oskorei, a legião das almas mortas do folcore norueguês. Além disso, muitos podem ver semelhanças com a maquiagem usada nos filmes expressionistas como “O Gabinete do Doutor Caligari“.

Os discos do estilo são um exemplo único de design gráfico. A limitação de cores, a aparência monstruosa e a tipografia transformada em imagem são os pontos mais característicos do black metal. Christophe Szpajdel é um dos responsáveis por cunhar o estilo desses logos já que ele criou mais de sete mil logos para bandas do estilo. Ele é o fundador de um estilo caligráfico conhecido como “Depressiv’Moderne“, uma junção do Art Deco, do dark ambient e do caos econômico que estamos hoje.

gorgoroth

Por mais que o Black Metal seja um estilo musical que nunca fui recebido muito bem pelo maistream cultural, principalmente pelas associações do estilo com a queima de igrejas e assassinatos, alguns artistas conseguiram um reconhecimento grande fora desse gueto musical. Jonas Åkerlund é um deles. Ele começou tocando no Bathory e alcançou o sucesso dirigindo clipes para Madonna, Lady Gaga e Prodigy. Você deve lembrar do trabalho dele quando pensar no vídeo de “Ray of Light” da Madonna. Stephen O’Malley, Martin Kvamme, Halvor Bodin; esses são alguns dos expoentes do design gráfico que surgiram de dentro do estilo e acabaram por alcançar patamares maiores.

Onde o mundo vê apenas barulho e ódio, eu vejo uma expressão artística forte e abrangente. Desde a representação gráfica nos logos das bandas, o som que é aprimorado a cada disco até as apresentações ao vivo, repletas de elementos teatrais que têm como principal ponto provocar a audiência. O importante para mim não é o peso, o choque visual; o importante é a intensidade e isso sim é arte.

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black metal ist krieg

O artigo acima foi escrito para a edição de agosto de 2009 da Computer Arts brasileira mas como acabei escrevendo mais do que cabia no local, resolvi postar o texto em sua totalidade aqui no blog. Comprem a revista e keep supporting black metal.

via Black Metal / blog.ftofani.com.

5 thoughts on “Black Metal ist Krieg”

  1. eu acho que uma boa definição é “expressionismo alemão meets heavy metal”… onde a função da música não é ser bonita nem apurada tecnicamente, mas transformar em música e expressão o que há de mais negro, desesperado, nauseante e doente… assim como o expressionismo não buscava retratar um ideal de beleza, mas justamente o contrário…

    nesse sentido eu concordo com o pessoal do darkthrone, acho que quem conseguiu “chegar lá” foram o mayhem, o darkthrone e o burzum, mais do que as outras… sendo que o “de mysteriis…” do mayhem é provavelmente o que na minha opinião chegou mais longe… concordo totalmente com você, esse movimento acabou gerando uma inovação estética, ainda que seja quase que exclusivamente underground, que pouca gente enxerga…

    no mais parabéns pela matéria na computer arts
    (never) stop the madness!

  2. Pingback: Ben Arfur: Delicadeza e Impacto no Design via @pristinaorg // Pristina.org

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